31 de out. de 2003

Químico


Se você pega uma lente para olhar a água que bebemos, você verá que a água é cheia de vermes, pequenininhos, que você não consegue ver a olho nu. E ao vê-los você não beberá mais água. Não beberá e vai morrer de sede. Quebre a lente e os pequenininhos vermes desaparecerão, e você poderá voltar a beber e se refrescar!

Nikos Kazantzakis

Às vezes, e são quase todas, não vale à pena especular, examinar e repensar as relações mantidas e as pessoas queridas. Se uma relação funciona, se uma pessoa é agradável e constrói, os esforços devem então direcionar-se para a manutenção dessa situação. Nunca para a desconstrução dela. Por ora, penso numa equação elementar: o número de momentos de felicidade que uma pessoa atinge é diretamente proporcional ao número de coisas, pessoas e atitudes de que essa pessoa gosta. Atenção a critérios de relevância rígidos demais.

30 de out. de 2003

Devaneios midiáticos


Dias de febre são, para mim, dias de televisão. Não consigo ouvir música, acho tudo chato e alto. Não consigo ler, as posições ficam ruins de dois em dois minutos e, num dado momento, se esgotam. Assim, meu destino é assistir a televisão e tirar uns cochilos, sem qualquer separação consciente entre as duas atividades. É verdade que todo remédio pesa a balança para a direção do cochilo.

Aqui em casa não tem TV a cabo. E, sobre a programação, tenho alguns comentários que podem interessar a alguém e, com sorte, dividir algumas opiniões.

A Ana Maria Braga continua muito legal e divertida, muito mesmo, que pessoa legal, queria que fosse minha tia.

Depois da Ana Maria Braga é quase impossível assistir TV. Não tenho paciência para desenhos nem para receitas. A Olga eu até acho elegante, mas o programa dela é um lugar em que nada acontece. Talvez esteja lá o tão procurado vácuo perfeito.

Pela maior parte da manhã só há desenhos, receitas e futebol. Eu iria dizer esportes, mas é mesmo futebol o que se vê. Às vezes o Guga, às vezes o Schumacher, de vez em quando uma jogadora de vôlei que migrou das quadras para as praias, mudou de dupla. No mais, é tudo futebol.

A hora dos jornais locais. O Artur e a Isabela dispensam comentários, basta dizer que eles agem como se estivessem na sala de visita, quer dizer, na cozinha da casa deles. E que essa casa deve ficar em alguma cidade com, no máximo, dez mil habitantes. Nunca vi gente tão comadre, o papo nunca sai do micro.

Para falar do Jornal Hoje, tomo as palavras de um amigo: Tenho certeza que a cada vez que assisto o Jornal Hoje meus neurônios entram em decomposição. A Sandra Anemberg é a criatura mais insossa do planeta. Ela tem o carisma de um hipopótamo. Como alguém pode achar possível ser tão simpática assim? É uma idiota. Parei, parei de assistir Jornal Hoje. Nunca mais. No mesmo horário passa o Mundo à la carte no P&A. Muito melhor. Sem dúvida. É um ótimo comentário, mas como não tenho TV a cabo, há também o programa da irmã do Faustão.

Os convidados da Leonor são sempre muito desinteressantes e os assuntos, também. Contudo, ela tem opiniões espertas e piadinhas engraçadas para o horário, além de tirar o jeca do co-apresentador o tempo todo.

Depois do almoço, é hora do programa da Angélica, que é divertido para mim, mas só porque eu sempre assisti novela. E os convidados dos programas da Globo ao menos despertam algum tipo de interesse, geralmente.

Anjo Mau é um bom momento da tarde, fico ansioso por cada cena da Luíza Brunet, mas não me estenderei nesse assunto, que merece um post próprio. Enfim. Já me prolonguei demais.

Resumindo a tarde: a Astrid está muito mudada; a Sônia Abrão precisa contratar uma repórter cujos dentes caibam dentro da boca; o Cabeção é, desde a saída da Bia, a melhor parte da Malhação; Chocolate com Pimenta é leve, divertida, quase cai pro absurdo, um sucesso. O Roletrando tem que continuar. O jornal sensual do SBT também. Assista.

Assistindo Kubanacan, me surpreendi com a Letícia Spiller por lá, mas não entendi o que ela fazia nem o que ninguém fazia naquela novela. A Leonor, irmã do Faustão, falou que também não entende nada. Será que alguém entende? É um desafio, tente numa noite de ócio.

Aqui no blog termino meu dia de enfermo. E fico tão cansado que nem consigo durar até a Gimenez.

28 de out. de 2003

Dias de febre


Dias de febre são como um feriado passado em casa. Entretanto nem os amigos nem a família estão de feriado, o que agrava essa situação. A boca fica com um gosto ruim, os compromissos se resumem ao termômetro e aos remédios de sempre, aquele cobertorzinho se torna o melhor amigo. As pernas ficam pesadas e as pessoas, atenciosas.

Mas ainda na febre há alegria: às sete da noite, no SBT, passa o Roletrando, que agora mudou de nome e de patrocinador. Sempre adorei esse programa, e foi com ajuda dele que aprendi a ler e escrever. Enfim. No final do programa, um senhor de uns sessenta anos ganhou um Vectra e pulou e gritou como um menino. Aí minha mãe disse: "É bom ver as pessoas vibrarem, né?". Achei bonito isso.

Ultimamente tenho pensado que envelhecer pode ser um bom caminho para mim - e para muitas outras pessoas também. Mas seria demais dizer que tenho pressa e que farei o possível para que isso aconteça o mais rápido possível... Vou com calma então, mas certo que o futuro tem lá suas vantagens.

Ontem vi "História Real" de novo. Acho que explica tudo isso.

23 de out. de 2003

Papo de elevador

Foi-se o tempo em que calor era papo de elevador. A coisa anda insuportável. E ainda me disseram que estamos na primavera. Como se não bastasse, aqui em casa ainda me apareceram formigas... Não só na cozinha, como também nos quartos. Que aflição de dormir e poder acordar com uma formiga entrando pelo meu nariz. Melhor nem pensar.
Talvez amanhã pergunte aos meus vizinhos se também apareceram formigas em suas casas, caso encontre algum no elevador. Talvez algum tenha uma receita infalível para exterminá-las. Bom, pra falar a verdade, sou daquele tipo que deixa elevador ocupado passar duas, três vezes. Aqui no prédio, em condições normais, só pego elevador quando está vazio. Minha mãe morre de rir, diz que sou jeca, mas sempre que está comigo adere ao movimento. Ah. Elevador é mesmo muito chato: um tal de olhar pra cima, pra baixo, pro lado, de falar baixinho sobre assuntos impessoais. Prefiro evitar qualquer transtorno até chegar à garagem e guardar minha preciosa energia social para a vida de verdade.

18 de out. de 2003

That thing




Guys you know you better watch out. Some girls, some girls are only about that thing, that thing, that thing. Gilrs you know you better watch out. Some guys, some guys are only about that thing, that thing, that thing.

O engraçado é que eu cantava essa música morrendo de rir, achando que era uma bobagem. Que inocente. Watch out!

17 de out. de 2003


- o que é que faz não saber querer menos, querer por querer?
- sempre por morrer, pra poder viver.
- o que é que faz não saber fazer passar, deixar pra lá e continuar?
- o que é que faz só melhorar com outro lá, no seu lugar?
- sozinho e cá, não faz. não dá mais.

12 de out. de 2003

Devaneios dominicais


- Alô?
- Alô. Nossa, que bom que você atendeu. Tem sido tão difícil falar com você... É que eu queria te encontrar de novo. Será que a gente pode se ver hoje?
- Hum... Adoraria, mas...

... estou me sentindo culpado por ter comido o último pedaço do pudim.
... hoje é folga da secretária eletrônica. Vou substituí-la.
... meu tio fugiu do hospício. De novo.
... como? Não estou ouvindo! Tem alguém aí?
... tenho medo de não saber voltar pra casa.
... quem sabe, talvez, vou pensar, mas só se não chover.
... estou fazendo minha barba. Com pinça.
... não diga mais nada. O telefone está grampeado.
... hoje é a prova final do meu curso de astronauta por correspondência.
... preciso guardar lugar no sofá para minha irmã na hora da novela.
... hoje faz 53 anos que o inventor da batedeira morreu. Estou de luto.
... recebi um telegrama do governo dizendo que tenho 6 horas para deixar o país.
... descobri que Papai Noel não existe. Tenho que devolver todos os meus presentes de Natal.
... faço parte de uma sociedade secreta que tem um encontro secreto marcado numa data secreta. Não posso falar mais.

9 de out. de 2003

She's after my money, like I care




Tô com esse velhinho e não abro. Assim como aquela velha idéia de amor romântico, acho que todo o romantismo foi por água abaixo. As relações devem levar à felicidade, seja como for. Se o velhinho fica feliz pela mulher e a mulher, pelo dinheiro, tudo bem. Que os dois estejam felizes.

Aceite o que lhe dão, mas saiba com que fim lhe foi dado.

Brecht

Às vezes me relaciono com pessoas que gostam mais de mim do que eu delas. Às vezes acontece o contrário. Se o gostar não é o único valor numa relação, tudo fica mais simples e possível. Sempre fui a favor de relações que envolvem interesses, desde que os mesmos não sejam perversos e desde que partam dos dois lados. Aliás, será que relacionar-se com uma pessoa pelo simples prazer de estar ao lado dela, por sua boa companhia e coisa e tal, também não é uma forma de relacionar-se por interesse?

8 de out. de 2003

Cada piscar de olhos


Eu deixei de pensar no que aconteceu ontem, deixei de indagar o que vai acontecer amanhã. O que acontece hoje, neste minuto, é que me preocupa. Eu digo: "Que é que você está fazendo nesse momento?" "Estou dormindo." "Então, durma bem!" "Estou trabalhando." "Então, trabalhe bem!" "Que é que está fazendo nesse momento?" "Estou beijando alguém." "Então, beije bem, esqueça o resto; não existe mais nada no mundo, só esse alguém, meta a cara!"

Tudo deve fazer sentido e dar prazer por si só. Cada atitude. Cada pessoa. Cada olhar. O compromisso com o presente é o único que existe. Tudo o que não se encerra em si deve ser abolido. Essa causa me interessa muito.

5 de out. de 2003

Citação dominical


A vida só é curta se a coloco no patíbulo do tempo.

Stig Dagerman

Glossário
patíbulo: estrado ou lugar onde os condenados sofrem a pena capital.

4 de out. de 2003