26 de out. de 2008

Travessia


Romeu tinha apenas onze anos e vivia se espantando com o mundo. Esforçava-se para entender o funcionamento das coisas, mas a cada dia aumentava mais a sua impressão de que, do mundo, sabia e servia pra muito pouca coisa. A impressão só dava sossego nas temporadas que passava na casa da avó. Era na cidade dela que ele se revelava um ótimo atravessador de ruas, acompanhando a avó e todas as suas amigas naquelas travessias que, para ele, pareciam as coisas mais simples e prazerosas da vida.

12 de out. de 2008

Amontoado


Bernardo assistiu a uma peça de teatro e desde então uma frase andava ecoando na sua cabeça: como é que pode se transformar num amontoado de tarefas a vida da gente? Era uma frase relativamente simples, mas aquilo parecia organizar todos os conflitos que o rodeavam nos últimos tempos. O rapaz, que já não era menino há alguns pares de anos, custava a enfrentar a vida adulta e a série de tarefas que diariamente se impunham à sua vida, quisesse ele ou não. As tarefas vinham de todos os lados, não podia olhar de rabo de olho pra um canto que, pronto, de lá aparecia uma nova tarefa.