28 de abr. de 2007

Despedida


Uma noite, quando meu pai passava pelo rio, vislumbrou-a dançando sob o luar. Precipitando-se enganchou seu lenço e assim a trouxe para casa tornando-a sua esposa. E agora ela ia e vinha pela casa o dia todo, procurando o lenço para que pudesse amarrá-lo nos cabelos e partir. Eu costumava acompanhar suas andanças: de como abria armários e baús, de como destampava jarras, de como se ajoelhava para espiar debaixo das camas. E eu tremia. Tremia de medo que encontrasse seu lenço mágico e se tornasse invisível. Este medo durou ainda muitos anos, ferindo profundamente minha alma recém-nascida. Ainda hoje vive em mim, mais indescritível do que antes: é com angústia que observo aquelas pessoas ou idéias pelas quais tenho amor porque sei, sei que estão procurando seus lenços para poderem ir embora.