16 de set. de 2003

Memória


Ter um blog, tirar fotos, fazer anotações, guardar ingressos de shows, cartas e bilhetes. Todas essas técnicas têm apenas um grande objetivo. Ampliar a memória humana, que não seria capaz de lembrar de tanta coisa. São para isso também as já antigas (e quase esquecidas, quem diria...) enciclopédias. Um blog retém o que foi pensado há um mês atrás; e não deixa que o que é pensado agora se perca no tempo. Álbuns e mais álbuns de fotos são religiosamente observados para que as férias, os casamentos e os aniversários que assinalam qualquer vida não sejam esquecidos e para que cada detalhe seja preservado. Seja esse detalhe uma pessoa, um lugar, um copo ou um momento.

Tudo o que se quer é evitar o confronto com a efemeridade da vida. É ter livre acesso a cada momento vivido. Que nada passe, que nada seja esquecido então. Os homens da tecnologia, é claro, correm atrás disso e desenvolvem infinitos mecanismos de apreensão do tempo e extensão da memória.

Aí eu penso: como seria bom se também investissem numa forma de restringir a memória humana, de dar a cada um de nós o poder de dominá-la e de apagar as más recordações. Poxa. É chato saber que, a qualquer momento, posso me lembrar de alguma coisa de que não queria me lembrar de jeito nenhum.

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