10 de fev. de 2004
Eternamente
A nossa essência é a luta. Nessa luta, desenvolvem-se e atuam perenemente a dor, a alegria e a esperança. A ascensão, o combate com a corrente antagônica, gera a dor. Mas esta não é um monarca absoluto. Cada passageiro equilíbrio no curso da ascensão enche de alegria todo ser vivo. Mas de dentro da alegria e da dor salta perenemente a esperança de libertar-nos da dor, de expandirmos a alegria. E recomeça a ascensão - a dor - e renasce a alegria e salta uma nova esperança. O círculo jamais se fecha. Não é um círculo; é um redemoinho que está eternamente subindo, alargando-se, girando, desenvolvendo a grande luta.
No meio do redemoinho vamos nós. E ainda que, naufragados na alegria, estejamos momentaneamente livres da dor, a esperança aparece como força maior. Ela leva-nos a abandonar a alegria antiga e dá-nos força para superar qualquer dor. Tudo isso para que nos lancemos ao próximo instante, sempre desconhecido.
A esperança embaça-se, então, a apenas cinco centímetros dos meus olhos. E quando afasto-a do meu rosto, para assim poder vê-la melhor, ela me aparece com outra face. Desaparece, nesse instante, o seu caráter sagrado e inocente. E desprovida da consolidada embalagem, assemelha-se muito à ambição.
Eternamente subindo, alargando-se, girando...
Eternamente.
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