11 de mar. de 2004

Envenenados


Há muito tempo não conversávamos desse jeito. É certo que nunca fomos grandes amigos, mas antes mesmo desse dia já havíamos tido conversas inesquecíveis. E vivido momentos inesquecíveis. Descobertas, aventuras, vexames. Um dia passado ao lado do outro era sempre memorável. Mas sendo a vida irônica como é, acabamos sendo separados. Por meses. É inegável que aqueles foram bons meses para ambos. Inegável também é que aquela distância tornava cada raro encontro ainda mais prazeroso. Algumas palavras trocadas e já ficávamos satisfeitos. Então, nesse dia, depois de meses, o acaso nos uniu. De uma situação banal ressurgiu ainda mais plena aquela antiga relação, quando sobre nós já não atuavam mais as antigas distrações. A bebida, as afinidades, os desejos. Horas se passaram. Diversas histórias foram narradas. Era tarde e seria natural que nos despedíssemos. Olhamo-nos um ao outro.

Estávamos ambos fatigados, mas não queríamos perder o veneno desse dia. O sono aparecia-nos como uma fuga à hora do perigo, e tínhamos vergonha de ir para a cama.


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