25 de jun. de 2004

Corpo humano


E se eu gosto de músculos deve ser por causa da consistência deles. Mas eu gosto mais quando consigo envolvê-los na minha mão. Quando posso acreditar que por um instante faço parte e estimulo aquela rigidez. E se eu não gosto de banha deve ser porque ela se espalha à medida que eu pressiono. E muda de forma. E não oferece a mínima resistência, até chegar no osso. Por isso é que eu devo gostar de osso: porque para mudar os ossos de uma pessoa é preciso um mínimo de violência. E eu gosto do que não se adapta a mim. Gosto de relacionar-me com algo de imutável e de exclusivo. Não preciso que ninguém se vista de mim para ter acesso ao que ofereço. Esse acesso é inevitável. Prefiro que as pessoas continuem vestidas como as encontrei e que por trás de cada traje hajam músculos e ossos a espera. Músculos em busca de estímulos e ossos satisfeitos, calcificados. E que não haja banha, porque não quero interromper o estado de nada. Quero potencializar. Essencialmente de um, potencialmente de todos.

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