3 de mai. de 2011

Arde


Manoel já havia sido um cara apaixonado, ainda que isso, hoje, fosse um pouco difícil de se acreditar. Acontece que o amor havia acabado, e ele, sem perceber, havia pintado na parede de casa um retrato colorido e bonito daquilo tudo. Por um fenômeno difícil de se explicar, o retrato havia entranhado nas paredes, de um jeito que não adiantava raspar ou retintar - a imagem sempre aparecia de novo. Uma vez cavou a parede, e o que viu foi um retrato ainda mais nítido do velho amor. Cavou, então, mais um pouco, e acabou fazendo um buraco na própria casa. E sempre que a noite esfriava, a casa ardia um pouco mais.