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20 de fev. de 2007

Na minha lista (parte cinco)


Oi Ana,

queria saber como foram as coisas por lá, como estão as coisas por aí, o que tem ocupado a sua cabeça e tudo e tal. seria bom receber umas palavras suas. queria cumprir aquela promessa que fizemos, sobre não nos tratarmos como estranhos depois de tudo o que aconteceu. sei que pode ser difícil pra você, pra mim também não é fácil, mas tenho quase certeza de que vale à pena. sumir é sacanagem. as saudades são muitas. de verdade.

um beijo,

Clóvis

14 de nov. de 2005

Na minha lista (parte quatro)


Oi Davi,

escrevo pra dizer que achei muito bom te reencontrar, ainda que em tais circunstâncias. não sei se isso é claro pra você, mas eu te admiro pra caramba. você é uma das pessoas mais generosas e cristalinas que eu conheço, o que pra mim são valores maiores. acho que essas coisas tristes que acontecem devem servir pra sacudir a gente, pra mostrar aos nossos olhos coisas das quais eles estavam distraídos.

hoje quando você me ligou mais cedo e começou a falar da Regina, pensei que fosse me chamar pra ir visitá-la no hospital ou coisa parecida. fiquei muito surpreso ao ouvir que a notícia era outra. daí passei o dia pensando naquela época do colégio, pensando que ainda queria aprender muita coisa com você. aprender um pouco do jeito que você leva a vida, que me parece ser um jeito muito bom.

eu sei que as coisas não acontecem assim, tão rápido. mas queria que a gente se reaproximasse e acredito nessa carta como um primeiro passo rumo a alguma coisa que pode nos fazer muito bem.

um abraço,

Clóvis

29 de set. de 2005

Na minha lista (parte três)


Oi Rita,

sabe aqueles dias de nostalgia, de pensar muito nas coisas que se foram e ainda mais naquelas que não se foram direito? sabe aqueles dias em que o sono custa a chegar? pois é. você sabe que sempre que entro numa dessas, pego minha caixa de coisas queridas e começo a mexer. numa tentativa de me aproximar desse desconhecido território da memória.

no meio das coisas queridas estava a sua carta. aquela carta que você escreveu na minha frente, por não conseguir dizer o que queria com palavras faladas. durante esse tempo todo evitei abrir e reler essa carta, talvez por nunca ter sabido o que pensar sobre ela. talvez por birra, vai saber. mas hoje resolvi lê-la.

quando penso na gente lembro imediatamente daquela briga horrível no carro, quando eu acabei te deixando plantada no meio da estrada. lembro também da sua covardia, daquela mentirada toda. por outro lado, consigo enxergar alguns momentos da mais profunda entrega entre nós dois. consigo sim. mas enfim. tô escrevendo porque queria dar um fim mais bonito pra nossa história.

ainda não sei sé é hora da gente sentar e conversar, nem sequer se isso faria algum sentido. mesmo assim queria saber o que se passa sobre mim aí na sua cabeça, porque eu não faço a menor idéia. acho muito estranho eu fingir que não te conheço, você fingir que não me conhece e pronto. queria saber se essa é mesmo a melhor solução. acho que trocar umas cartas a respeito não vai nos fazer mal. não consigo tirar da cabeça que o que a gente viveu foi bonito.

um beijo,

Clóvis

20 de set. de 2004

Na minha lista (parte dois)


Donato,

depois de tantos anos, é um pouco difícil começar essa carta. tantos anos sem te ligar, sem nos encontrarmos, sem qualquer tipo de contato. depois de tantos outros anos de convivência diária, feito tico e teco. eu também não entendo qual é a distância que nos separa, talvez seja a distância do tempo. talvez a seja a distância dos passos que demos em direções opostas.

talvez seja justamente por isso que não te procurei durante tanto tempo. eu sempre pensei em fazê-lo, mas sempre achei que seria um pouco sem graça e um pouco sem assunto. sempre achei que nunca seria como antes, que isso era impossível. ainda acho isso, mas estou fazendo uma lista importante e você acabou aparecendo nela. então tomei coragem e escrevi essa carta.

tomei coragem de assumir que algumas pessoas fazem mesmo parte do passado. que algumas pessoas que um dia foram essenciais podem hoje não ser mais. você é essencial nas minhas lembranças, nas minhas referências. mas provavelmente vou continuar sem te ligar, sem te procurar nem nada disso. talvez eu não te ligue nem no dia do seu aniversário (porque na última vez foi meio desconfortável). essa distância nos cai bem. mas não tem jeito, eu não me esqueço de você.

um abraço,

Clóvis

8 de set. de 2004

Na minha lista (parte um)


Oi Cássia,

resolvi escrever essa carta porque no sabado assisti a "minha vida sem mim", um filme muito bonito. não sei se você já viu, tomara que sim. o lance é que, num determinado momento do filme, uma personagem resolvia fazer uma lista das coisas que queria fazer antes de morrer. pois é. não sei porque, e nem sei se vou saber, mas durante o filme me lembrei muito de você.

lembrei daquela nossa conversa na praia, do "o que é que a gente tá fazendo com a nossa vida?" (e eu ainda não sei o que é que me prende aqui e não me deixa transformar todos os meus dias em dias como aquele). lembrei daquele dia que andamos pra muito longe e depois descansamos na sombra de um barquinho simpático. lembrei da nossa despedida no aeroporto. do seu sorriso quando me viu parado e sem graça, atrás da pilastra.

eu acho isso tudo muito emocionante. porque a maioria dessas lembranças é de momentos sem palavras, ou em que as palavras eram secundárias. momentos em que outros tipos de ligação, em que outros tipos de comunicação pareciam sobrepor-se às palavras. em que o silêncio fazia bem, dava tranquilidade. em que a mera presença dava mais prazer do que qualquer palavra.

eu acho muito raro e muito bom encontrar pessoas assim. então eu resolvi colocar na minha lista: encontrar com você de novo. resolvi também te contar isso, porque acho que essas coisas fazem bem pra gente, são boas de ouvir e de dizer. não sei como vai ser entre a gente, mas agora é assim e eu gosto. e às vezes eu sinto saudade de você, do seu jeito e das nossas andanças.

um beijo,

Clóvis

9 de jul. de 2004

Carta para Marina


Odeio essa distância que nos separa. Odeio não estarmos mais ligadas pelos laços da vida em comum que a infância - mesmo em lugares tão diferentes - proporciona. Odeio termos tomado rumos tão diferentes e agora existir comum à nós apenas o laço da amizade. Porque à vezes ponho em dúvida a força desse laço e fico me perguntando se eventualmente ele não pode vir a arrebentar.

Me assusta ficar tanto tempo sem conversar com você; você que tantas vezes foi a minha própria voz, que tantas vezes foi minha irmã, que usei para dizer à mim o que eu gostaria de dizer; que tantas vezes foi minha porta voz à mim mesma.

Você que tantas vezes foi quem me segurou de pé, me segurou no colo, e de tantos outros modos que eu não saberia precisar nem tampouco entender. Ou explicar.

Me lembro quando a conheci, época em que três anos a menos ou a mais era o que diferenciava uma criança de uma moça; mas penso que nunca foi problema para nós, passamos por tudo quase que simultaneamente. Uma precoce demais, a outra atrasada demais, e entre demoras e adiantamentos encontramos juntas no tic tac do relógio o nosso próprio tempo.

Conversar com você sempre foi o mesmo que conversar comigo, perdi a conta de quantas cartas à você comecei confusa e finalizei esclarecida após relatar-te os fatos. Fatos que eu repetia vinte vezes em no máximo vinte e três folhas, frente e verso; e você lia e comentava cada frase, cada intenção. Sem falar nos envelopes gigantescos destinados aos nomes mais estranhos possíveis aos olhos dos carteiros e dos vizinhos. Sinto falta desse chão que você sempre foi para mim.

Talvez porque a infância terminou e passamos de adolescentes à adultas sem que nos déssemos conta, e acabamos por aprender a sermos nosso próprio chão. À dar à nós nossos próprios colos.

Isso nos faz independentes. E reduz nossa ligação à meros laços de amor que criamos durante os anos. Não mais a vida em comum. Não mais os mesmos caminhos. Não mais os mesmos ideais e provavelmente nem mais os mesmos planos. Que dirá então, um futuro em comum.

Laços de amor e de amizade. Amizade que não é mais a mesma, que deu espaço à trabalhos, obrigações, preguiças, namoros, amigos fisicamente próximos, e tantas outras fatalidades? obstáculos? interesses? que às vezes me parecem terem alcançado o que os quilômetros jamais conseguiram.

Me pergunto então, se o laço que nos une é mesmo assim frágil a ponto de partir-se de fato. Ou ainda, simplesmente soltar-se... e caso isso viesse a acontecer, estaríamos afinal livres uma da outra, soltas pelo espaço flutuando...

Tento descobrir o que seria então de mim. O que seria de nós. Reduziríamos à nada uma à outra.

Sinto medo. Medo de não precisar mais que seja meu chão; medo que talvez você também não me precise mais. Medo de ter crescido e, inevitável, ter-me tornado sozinha como qualquer pessoa.

Mais medo ainda por perceber que hoje preciso de você de outra forma. Pela simples existência destes laços de amizade e amor que formaram-se com o passar destes anos; que são a única coisa que agora resta-nos em comum.

E que eu espero serem fortes o suficiente para não deixar que nos percamos eu de você e você de mim; pelo único motivo de eu te amar tanto assim e você ser ainda, a minha número um.


Esse texto não fui eu quem escreveu, foi a Thaís Capusso. Eu não a conheço. Ele estava aqui guardado e resolvi postar, já que vou viajar e não tinha nada pertinente pronto. Acho-o bom de ler, de pensar. Bom, é isso: amanhã bem cedo lanço-me formalmente ao acaso. Cazuza para todos!