29 de jan. de 2004
Realeza
não espera a certeza chegar
sabe que não há certeza
leva-se pela leveza
que arriscar é ter beleza
28 de jan. de 2004
24 de jan. de 2004
Para viver à beira do abismo
22 de jan. de 2004
A preferida
A preguiça é a máscara preferida do medo de se arriscar e da constatação de que não há nada de extraordinário a ser feito.
16 de jan. de 2004
As it comes
Valorizo tudo o que há de simplório em mim. Procuro os gostos mais óbvios e gratuitos. Rejeito toda forma de complexidade. Retorno aos sentimentos mais previsíveis e banais. Afasto-me da tendência a surpreender. Busco ser cíclico. Linear. Ando calmamente pela calçada. Dou seta antes de virar e olho para os dois lados antes de atravessar. A rotina seduz-me à medida que torna-se imperceptível. Procuro desesperadamente um vício. Uma leve neurose que indique-me apenas um caminho, de preferência calmo e silencioso. Deixo-me levar pela onda, ainda que barulhenta, se esse for o caso. Sonho em fechar os olhos e tampar os ouvidos, às vezes. Esforço-me, num único esforço, para ser capaz de deslizar suavemente até o abismo.
15 de jan. de 2004
12 de jan. de 2004
Incidências
As coincidências encontradas após qualquer tipo de procura devem ser desconsideradas.
Primeiro, porque são tantas.
Segundo, porque quem procura sempre acha.
11 de jan. de 2004
Desconhecida
O que era exatamente aquela sua curiosidade sobre o que se passava dentro e fora dos outros?
Curiosidade até então inofensiva, até então insaciável, que lhe parecia pouco saudável. Talvez essa fosse uma visão cultural das coisas. Bla bla bla. A curiosidade persistia, e restringia-se aos presentes. Os distantes, assim como as palavras por eles proferidas, mantinham-se firmes em segundo plano.
Assim, cada janela aparecia-lhe como uma possibilidade. Cada transeunte - uns mais e outros menos - aparecia-lhe como um candidato à próxima palavra ou ao próximo abraço ou ao próximo beijo. Sua fixação pelo desconhecido e pelo imediato gratuito casual consumia-lhe deliciosamente. Resolveu que os motores da sua vida seriam os pulsos imediatistas, que essa seria a sua natureza. Aboliu os compromissos formais com o vivido, o prometido e o subentendido. Esquivava-se também dos planos, dos desejos maiores e dos previamente arquitetados. Libertava-se à medida que, por puro gosto, passava reto em frente à porta da sua casa, rumo à até então desconhecida próxima esquina.
Mas havia alguém que, misteriosamente, sempre trazia-lhe de volta dos tais passeios. Com muita discrição. E isso muito lhe agradava. Será que, quanto mais alto está o patrão, mais longa se torna a corda da escravatura? O escravo pode então agitar-se numa arena mais espaçosa, e morrerá sem nunca ter encontrado a corda. Será isso então que chamamos de liberdade?
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