2 de fev. de 2004

Paisagem


- Alô.
- Alô. Quem está falando?
- É Elena.
- Elena, acho que a gente não se conhece e na verdade eu queria mesmo era falar com um amigo meu, mas o telefone dele estava ocupado e o seu estava aqui, anotado no bloquinho... Bom, então eu acho que vou falar com você mesmo, você se incomoda?
(Elena sorri discretamente e não diz nada)
- Elena, sabe quando algumas coisas que antes eram importantes deixam de importar e tudo o que você quer é prosseguir na estrada, calmamente, vendo tudo o que há de bonito na paisagem? E aí você descobre que há muito mais nessa estrada do que você seria capaz de imaginar. E aí você resolve desacelerar um pouco, para que alguns daqueles que ficaram lá atrás se aproximem. E aí você percebe que eles são partes importantes dessa estrada e dessa paisagem. E aí você continua, sem temor algum, por ver lá na frente uma paisagem ainda mais bonita.
- Sei, sim. Esse é você?
- Isso. Eu vejo uma paisagem muito bonita lá na frente, e também ao meu lado. E eu queria ter três ou quatro olhos para poder enxergar mais e enxergar sempre. E enxergar também o que acontece atrás de mim. Mas aí eu me lembro que isso não é possível, e nem por isso eu perco a calma. A paisagem me preenche e me tranquiliza.
- Um dia eu ouvi que paisagem é tudo aquilo que devolve o olhar. Você deve estar apaixonado.(Ele sorri discretamente e não diz nada)

Ele e Elena despedem-se. Os dois colocam o telefone no gancho ao mesmo tempo. E por alguns minutos não tiram os olhos do aparelho.


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