2 de set. de 2003

Prioridades


A felicidade universal mantém as engrenagens em constante funcionamento; a verdade e a beleza não são capazes disso. É certo que, cada vez que as massas obtinham o poder político, importava mais a felicidade do que a verdade e a beleza. Entretanto, apesar de tudo, a pesquisa científica irrestrita ainda era permitida. Continuava-se a falar da verdade e da beleza, como se fossem bens soberanos até a época da Guerra dos Nove Anos. Esta os fez mudar a cantiga, não há dúvida. Qual é a vantagem da verdade, da beleza ou da ciência, quando as bombas de antracita explodem em volta das pessoas? Foi aí que a ciência começou a ser controlada. Naquela época, o povo estava disposto a ser controlado. Daria qualquer coisa em troca de uma vida tranqüila. Desde então, começamos a dirigir. Decerto, não foi muito bom para a verdade. Mas foi ótimo para a felicidade. Não se pode tirar alguma coisa do nada. A felicidade tem seu preço.

Esse é um trecho de Admirável Mundo Novo, do Huxley, e retrata essa constante luta entre a verdade e a felicidade. O descontrolado progresso da ciência e da tecnologia parece em nada contribuir para a felicidade. Pelo contrário, gera novas necessidades e vende novas soluções temporárias, que em breve gerarão novíssimas necessidades. O mundo da ciência e da tecnologia funciona como uma empresa, e não como uma comunidade. Todos os avanços são destinados à busca de novos avanços, sem que os "antigos" sejam assimilados por todos os que por eles seriam beneficiados. E mesmo hora de rever se esse é mesmo o caminho que leva à verdade e, caso seja, se a verdade é mesmo mais valiosa que a felicidade.

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