12 de dez. de 2003

Esperando você


Esperava pelo grande amor da sua vida. Certa de que ele viria. Era hora. Havia escolhido o vestido adequado. Com o decote adequado. E o sorriso adequado, também. Pôs-se a esperar.

- Bonitíssimo. Inteligente. Sociável. Amável. Adequadamente sincero.

Horas se passaram. Anos, talvez. Chegou um outro. Bonito. Inteligente. Um pouco tímido e arredio. Um pouco sincero demais. E ainda havia a minha presença... Papo vai, papo vem. Pequenas discussões e grandes elogios. Casos engraçados, erros bem humorados, sorrisos gratuitos. Há alguma coisa melhor do que gratuidades? Deu-se também. Ela estava plenamente ciente de que ele poderia não ser o grande amor da sua vida. Poderia não ser a felicidade por que esperava. Mas estavam ali, felizes, surpreendentemente. Planejaram estratégias, fizeram poesia, pensaram em jogos. Trocariam beijos ainda naquela oportunidade. Estavam felizes, os dois, divertindo-se por mim também.

- Que gentileza.
- E vem conosco ou não vem?
- Vamos, vamos sim!

Ela sorria. Um sorriso novo, um sorriso muito maior. Estava pronta para ir. Foi quando chegou o grande amor de sua vida e ela ficou extremamente confusa.

- Bonitíssimo. Inteligente. Sociável. Amável. Adequadamente sincero.

O velho impasse. Já havia adequado-se àquela felicidade a três, um pouco arredia e um pouco sincera demais. Mas sempre há outra felicidade à espera. À espreita. E quando uma interrompe a outra, quando se adianta, quando não há intervalo, não sabe-se o que fazer. Era poético aquilo tudo - outra vez. E quem consegue viver de pura poesia? Da poesia trágica daquele autor? Naquele momento ficaram claras, claras demais, alvíssimas eu diria, todas aquelas possibilidades brancas. Esperavam um pé molhado, uma mão macia, uma cusparada que fosse. Enfim, algo que marcasse nelas a presença de alguém. Naquele caso era a presença dela.

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