19 de jul. de 2003

Clóvis


Chegando no meu prédio, vi na guarita um novo porteiro. Me aproximei, disse meu nome e meu apartamento, ele me deixou entrar. É precária assim a segurança do meu prédio, fazer o quê? Ao menos é perto da Polícia. Enfim. Ao acabar o processo padrão, o novo porteiro disse, com um sorriso meio sem graça no rosto: "Meu nome é Clóvis. É o meu primeiro dia...". Meu Deus. Quase passei mal. Aí eu disse como pude: "Prazer... Então é você que vai estar aí daqui pra frente..." e dei um sorriso acompanhado por um "Boa noite". Foi o melhor que consegui.

Poxa. Minha relação com porteiros sempre foi complicada. Ou melhor, nunca existiu. Eu nunca soube como me comportar diante deles, e é isso que complica. Na verdade, isso se estende para a secretária do dentista, a faxineira do trabalho, o moço da cantina e por aí vai. Mas com o porteiro do próprio prédio é mais complicado porque ele está lá todos os dias. Não dá pra evitar. E, mesmo assim, é alguém que você pode cumprimentar todo dia e não passar disso. Mas me incomoda pra caramba ignorar as preferências, as opiniões e os problemas de alguém tão presente na minha vida. Dizer aquele "Tudo bem?" e nem parar para escutar a resposta é das coisas mais chatas... Me incomoda de verdade.

Mas hoje vi no Clóvis a esperança de resolver essa situação. Penso até em me arriscar a andar de skate com os meninos do prédio, pra poder passar mais tempo lá embaixo.
Ah. E Clóvis é um nome que me toca de um jeito muito especial. Na mitologia do Carnaval, o Clóvis é o palhaço triste. Aquele que ri no picadeiro e chora na cama, de certa forma como todos nós. Esse nome me faz lembrar que tudo tem um outro lado. E que por trás do sorriso meio sem graça do Clóvis aqui da portaria pode ter uma pessoa encantadora, uma grande força ou um ótimo senso de humor. Enfim, é sempre bom lembrar que há algo de muito humano em todos nós. E que isso é o que mais vale.

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