24 de jul. de 2003

Escolha


Às vezes imagino como seria minha vida se minha mãe fosse uma desequilibrada que gritasse o dia inteiro e tentasse me controlar. Se a nossa convivência fosse um inferno e se, por diversas vezes, eu tivesse fugido de casa e dormido por aí. Talvez eu teria mais amigos próximos, conheceria mais mães de amigos e seria alguém mais independente. Talvez eu teria menos dinheiro, por almoçar menos em casa e viajar mais. Poderia beber mais cerveja ou, quem sabe, estar nas drogas. Ou talvez eu me esforçaria mais para arrumar um emprego qualquer que tivesse salário, para o mais breve possível me livrar desse fardo. Talvez eu teria preferido fazer faculdade em Viçosa. Quem sabe eu teria saído de casa aos quinze anos, ido morar na casa de algum amigo por aqui mesmo ou num albergue lá em São Paulo. Aí alguém da MTV me conheceria e eu acabaria me tornando VJ. Também seria possível eu morar na casa de uma tia no interior de Minas ou até numa fazenda. Então eu trabalharia ao invés de estudar e até já estaria noivo. Opa! Vai ver eu já teria um filho. Ou então, o pior: talvez eu ainda moraria com a megera da minha mãe. Aí ela continuaria me sustentando, mas jogaria isso com alguma freqüência na minha cara. Aí eu viajaria menos. Ou estaria no mesmo lugar.

Imaginar é das melhores coisas. Faz lembrar o quanto cada um é livre. Faz pensar em quantas possibilidades moram em cada pessoa. Infinitas. Faz perceber que seguir o caminho mais curto pode levar mais longe, e que o contrário também pode acontecer. Não há regra. Cada momento, e nada além de cada momento, tem muito valor. Nos lançamos ao incerto até mesmo quando a escolha é não se mover. Não tem jeito, jogamos a cada instante todo o nosso destino.

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