30 de jul. de 2003

Instinto primário


O que é cultural e o que é natural do homem? Esse é uma discussão bastante freqüente e certamente interminável. Engrosso a turma que acredita que quase tudo o que fazemos está impregnado de cultura. Hora de sentir sono, de sentir fome, de ir ao banheiro. Isso ninguém discute. E vou um pouco mais longe. Na maior parte das vezes, ficamos tristes com o que culturalmente é triste, e o mesmo acontece com a felicidade. Muitas vezes rimos do que é culturalmente engraçado, e com o riso - que já não quer só rir - queremos dizer alguma coisa. Seja que entendemos a piada, que estamos distantes do alvo do riso, que somos superiores e não nos importamos. Outras vezes rimos naturalmente, quando somos surpreendidos por um acontecimento ou por uma resposta inesperada. Aí é riso legítimo, riso que quer rir e mais nada. E como é importante lembrar: há uma enorme distância entre o engraçado e o ridículo.

E tem aquela dúvida sobre a natureza humana, talvez a mais abrangente: o ser humano é bom e a sociedade o corrompe ou é mesmo mau, maquiavélico? Poxa. Essa não me atrevo a responder. Todos falam sobre o quanto as crianças (a princípio, seres com menor taxa de cultura) são cruéis e, afinal, quem não tem um caso desses pra contar? Ao mesmo tempo, as crianças são capazes de atitudes tão nobres. O Nikos fala que tudo é potencialmente de todos e que existe apenas uma grande essência à qual todos tem livre acesso.

E o ódio (leia-se medo) e a violência, serão naturais do homem ou culturais? O Roberto Freire, no Sem Censura, disse que uma pessoa só se torna violenta quando não consegue se aproximar do que ama. Pra mim fez todo sentido. E fico contente ao pensar que, antes da violência, vem o amor. Que seja ele o nosso instinto primário, então.

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