16 de jul. de 2003

Pra viagem


Mas hoje resolvi falar sobre o risco que uma viagem pode se tornar. Não, não falo sobre o mau estado das estradas, de turistas perdidos e assaltados, de acomodações desconfortáveis, banhos mal tomados e afins. Falo sobre o conforto do lar. Conforto que pode se tornar um enorme desconforto nos dias que sucedem uma boa viagem. Ao chegar de viagem, sinto-me como quem começa tudo do zero: desde a posição ideal pra dormir até o retorno ao ciclo de amigos. Tudo requer muito esforço e dedicação.

As coisas que acontecem durante a viagem me parecem mais interessantes e promissoras do que o daqui por diante. Ainda que não haja uma rotina à espera, tudo não passa de realidade. E o que se faz na realidade tem conseqüências e precisa ser bem pensado. Complicado isso de ter que pensar, medir e premeditar.

Já me vi diversas vezes pensando no porquê de viajar fazer tanto bem. Por agora, tenho algumas hipóteses: a imprevisibilidade de cada dia, a disponibilidade para conhecer pessoas e lugares, a presença do novo, a liberdade. E por aí vai. Conclusão? Nem consigo imaginar.

De qualquer forma, me vejo aqui, imóvel e incapaz de me afastar das memórias da minha já saudosa viagem. E acabo ficando nessa imobilidade, tentando evitar a inércia que o cotidiano impõe à minha vida.

Opa. Talvez já tenha uma nova hipótese. Nunca imaginei que fosse me basear naquelas leis da física, mas vamos lá. Em casa, a inércia leva cada um ao movimento de sempre. Movimento inconsciente e confortável, que aceitamos numa boa, mas que é quase como ficar parado. Numa viagem, a "ausência total de forças" leva cada um a uma inércia que paralisa. E ficar parado quando estamos viajando é coisa inaceitável. Nesse momento, cada um se impõe à tal inércia e age. E agir sobre o caminho que as coisas naturalmente tomariam traz a certeza de viver. Traz a certeza de se lançar ao risco constante que faz a vida valer à pena.

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