28 de jul. de 2003

O bárbaro


Ele sabia que é vergonhoso não poder dominar o coração. Lágrimas, palavras ternas, gestos desorganizados, familiaridades vulgares, tudo isso eram fraquezas indignas do homem. Nós, que éramos tão unidos, nunca havíamos trocado uma palavra afetuosa. Brincávamos e nos arranhávamos como feras. Ele, o homem fino, irônico, civilizado. Eu, o bárbaro. Ele, controlando, esgotando com naturalidade num sorriso todas as manifestações de sua alma. Eu, brusco, explodindo num riso inconveniente e selvagem.

Às vezes a gente se acostuma com uma amizade ou um relacionamento, e ele se torna muito prático e funcional. Novidades, casos, favores, baladas, encontros eventuais. Tudo funciona muito bem. Mas de vez em quando faz bem trazer à tona toda a subjetividade que existe em qualquer relacionamento. Afinal, não dá pra saber exatamente o porquê de cada amigo ser tão querido. Mas é. Então, sempre vale à pena fazer um esforcinho e, ainda que fora de contexto, dizer ao outro o quanto ele é importante. Pode ser que não mude nada, que só confirme uma certeza já existente. Mas ô. Faça isso e veja como faz bem.

Quem disse o que está lá em cima foi um personagem que se despedia de um amigo. Mais uma vez, quem me contou foi o Nikos.

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