2 de ago. de 2003

O caminhão nosso de cada dia


Hoje minha mãe chegou aqui em casa cheia de flores. Cheia mesmo. Eram uns oito vasos de flores de muitas cores e tipos. Nossa casa ficou muito mais bonita e muito mais viva. E minha mãe, muito mais contente. Foi quando ela me contou que há uma floricultura ao lado do trabalho dela. Contou-me que a dona da floricultura é muito simpática e deu aquelas flores pra ela, de presente. Me surpreendi e perguntei o porquê dessa boa ação tão aleatória. Aí minha mãe me contou que a dona da floricultura disse que todo fim de semana joga fora meio caminhão de flores. Ela leva algumas pra casa, dá para algumas pessoas queridas e, ainda assim, lhe sobra meio caminhão todo fim de semana. Sem exagero.

Com essa mania de procurar metáforas, pensei: é mais ou menos isso que acontece com as pessoas. Às vezes uma pessoa tem muita coisa boa pra oferecer pras outras, mas por acaso ou por preguiça não encontra quem queira ou aceite. Ela quer rir, brincar, dançar, conversar, discutir, beijar, construir... Mas se não encontra um outro que queira, tudo não passa de um potencial. É claro que não é todo dia que temos flores para oferecer, e que em alguns dias tudo o que temos é um buquê. Outras vezes acordamos com um caminhão inteiro de boas intenções e de boas ações guardadas, mas exigimos que os outros dêem algo em troca por elas. Se ninguém se dispõe, acabamos voltando pra casa ainda cheios de boas intenções e ações potenciais. À noite, sozinhos em nossos quartos, essas potências não nos servem de nada. Aí jogamos tudo fora quando fechamos os olhos e dormimos. No dia seguinte, é possível que já nem nos lembremos do que sentíamos e pensávamos no dia anterior.

Se acreditarmos que nascemos e morremos a cada piscar de olhos, torna-se infinito o potencial de cada pessoa. Ao mesmo tempo, torna-se complicado pensar em quantas possibilidades anulamos. É aí que repito: só depende da gente o destino do caminhão de flores de cada dia. Piegas, não?

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