5 de ago. de 2003

O que quer dizer


É impressionante como é complicado fazer as pessoas entenderem o que a gente realmente quer dizer. Ainda quando não consideramos todas aquelas teorias de que cada um vê um vermelho diferente, tem um olhar específico carregado de tudo o que viveu e o fato que cada um define as suas próprias referências de bonito, feio, bom, mau - entre outras. E como se não bastassem essas freqüentes codificações e descodificações do que falamos, ainda tem os meios. Por telefone as conversas são corridas e por e-mail, impessoais e desprovidas de intonação. Papo de comunicólogo? Pode ser.

Mas ainda ressalto uma nova mania: a ironia. Já me parece que quase nada quer dizer o que diz. Tudo tem um sentido maior, às vezes escondido, às vezes bem óbvio. Tudo dá a entender alguma outra coisa. Qualquer conversa, da mais cotidiana à mais elaborada, precisa ser interpretada. Ai, que desânimo. Metáforas, ironias, metonímias e todas essas coisas são fantásticas para a literatura, e são plenamente capazes de enriquecer o nosso cotidiano. Mas quando são demais, a coisa se complica. Às vezes decifrar leva tempo, disposição e os resultados podem decepcionar. É mesmo melhor ser claro, não enfeitar demais. Ou só enfeitar quando tiver certeza de que o outro entenderá. Não entender é bem complicado, e não ser entendido, talvez ainda pior. É por essas e outras que lanço agora a Onda ainda que burra de Contenção da Ironia. E espero tornar-me um expoente do movimento.

O que quer dizer diz.
Não fica fazendo
o que, um dia, eu sempre fiz.

coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
Só se dizendo num outro
o que, um dia, se disse,
um dia, vai ser feliz.


Paulo Leminski

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