11 de ago. de 2003

Dia de contradição


Às vezes penso em rejeitar todo o progresso. Quase todo tipo de conhecimento, de ciência, de cultura erudita. Tudo isso é muito vicioso. É um sistema que só sustenta a si mesmo, que só responde às perguntas que propriamente cria. Ou seja, todos os esforços de uma determinada ciência vão em busca de soluções para questões que não existiriam caso não existisse a tal ciência. Eu, que nada sei de astronomia, não me atormento para descobrir um planeta ainda mais antigo do que o que já foi descoberto. Minha irmã, que nada sabe de comunicação, não se preocupa com o poder da mídia de construir realidades, transformando a própria realidade em filme. Minha mãe nunca vai discutir com uma amiga sobre os reflexos do cyberespaço nas relações sociais, e isso em nada lhe trará prejuízo.

Mas se ninguém investir na química e na medicina, as pessoas continuarão morrendo como animais. Se ninguém se dedicar à arte, continuarão vivendo como animais. Algumas coisas se fazem mesmo necessárias, não tem jeito. Enquanto isso, outras parecem-me necessidades de um sistema, sustentado aos trancos e barrancos. É clichê, mas também me é estranho que todos precisemos de um celular. Antigamente ninguém precisava. Não duvido que, em breve, todos precisaremos de um celular que tira foto, tem internet e ainda toca MP3. Onde será que vamos parar? Será que vamos parar?

É óbvio que celular facilita a vida, ô se facilita. Assim como tudo o de tecnológico facilita. Complicado é ter acesso, e lidar com isso. Ter um blog e fazer quem nem me conhece conhecer o que penso me dá muito prazer. Mas viveria numa boa, se não existisse blog. A ciência é bem capaz de trazer conforto e longevidade ao ser humano. É também um grande prazer conseguir entender esse ser humano e suas relações. Mas até que ponto ter consciência é ter capacidade de transformar-se, de transformar o outro? Que ciência é mesmo necessária e traz avanços reais para a vida humana? E qual a outra, que só faz o mundo capitalista funcionar? Não sei se foi bobagem falar de capitalismo. Mas hoje ando meio descrente do saber. Queria ser um atleta do Pan. E nem precisava de medalha.

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